Tributação de CRIs e CRAs a partir de 2026 muda cenário da renda fixa e exige reavaliação de estratégias de empresas e investidores
A partir de 2026, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA) — dois dos instrumentos mais populares de crédito privado no Brasil — deixarão de contar com um de seus principais atrativos: a isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos para pessoas físicas.
A nova regulamentação determina a aplicação de uma alíquota mínima de 15% sobre os rendimentos desses papéis, promovendo uma mudança estrutural na forma como esses ativos são percebidos no mercado.
Essa alteração tributária marca o fim de um ciclo de incentivos fiscais relevantes que impulsionaram a popularização do CRI e CRA, especialmente entre investidores que buscavam diversificação com retornos líquidos mais robustos que os oferecidos por títulos tradicionais.
O impacto da medida será sentido em diversas frentes. Para investidores, tanto institucionais quanto individuais, o novo cenário exige uma reavaliação das estratégias de alocação, com maior atenção à comparação entre risco e retorno após os descontos fiscais.
Para empresas emissoras, sobretudo do setor imobiliário e do agronegócio, a mudança pode significar um aumento no custo de captação e a necessidade de tornar as emissões mais competitivas para atrair capital.
Diante desse panorama, entender os efeitos práticos da tributação e como ela altera a dinâmica do mercado de crédito privado é essencial.
Este conteúdo não é uma recomendação de investimento.
Alterações na rentabilidade líquida dos CRIs e CRAs após a nova alíquota
Atualmente, CRIs e CRAs se destacam por oferecer rendimentos líquidos de imposto de renda, tornando-se especialmente competitivos frente a alternativas como CDBs e debêntures. A partir da tributação de 15%, no entanto, a rentabilidade líquida desses papéis sofrerá um impacto direto, exigindo uma análise mais detalhada sobre a relação entre risco e retorno.
Como se tratam de instrumentos de crédito privado, a avaliação do lastro, do rating e da estrutura de garantias já era essencial — e agora, a comparação com produtos que oferecem incentivos semelhantes ou estrutura tributária mais eficiente torna-se ainda mais relevante.
Redução da competitividade frente a outros investimentos
Com o fim da isenção, CRIs e CRAs podem perder parte de seu apelo, sobretudo para investidores pessoa física. Em comparação, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA) continuarão, ao menos por ora, oferecendo rendimentos isentos de IR.
Fundos de investimento — especialmente os focados em crédito privado ou fundos imobiliários — também devem ganhar espaço, por permitirem maior diversificação e, em alguns casos, tratamento tributário mais vantajoso. Essa mudança tende a provocar realocação de capital dentro da renda fixa, exigindo maior atenção dos investidores na alocação de recursos.
Reações do investidor institucional e da pessoa física
Para investidores institucionais, que já operam sob regimes tributários específicos, o impacto da nova alíquota tende a ser neutro. Já para a pessoa física, especialmente aquela que buscava nos CRIs e CRAs uma forma de renda com isenção, a mudança representa uma quebra de paradigma.
É possível que esse público redirecione parte dos investimentos para alternativas mais vantajosas em termos de imposto. Ainda assim, investidores com maior tolerância ao risco e visão de longo prazo podem permanecer nesses ativos, desde que os novos retornos oferecidos justifiquem a permanência mesmo com a tributação.
Aumento no custo de captação para empresas emissoras
As empresas emissoras de CRIs e CRAs também sentirão os efeitos da nova política tributária. Para manter esses papéis competitivos, será necessário oferecer taxas de remuneração mais atrativas ou fortalecer a estrutura das emissões com garantias mais robustas. Isso representa, na prática, um aumento no custo de captação.
Pequenas e médias empresas, que muitas vezes dependem desses instrumentos para financiar projetos nos setores imobiliário e agroindustrial, podem ser as mais impactadas, sendo forçadas a buscar alternativas como debêntures ou operações estruturadas com fundos de investimento.
Estratégias para mitigar os impactos da nova tributação
Tanto emissores quanto investidores precisarão se adaptar. Do lado das empresas, melhorar a qualidade do lastro, diversificar os projetos e manter boas classificações de risco serão fundamentais para continuar atraindo capital.
Para os investidores, a busca por alternativas com isenção mantida — como LCI e LCA — ou por fundos bem geridos e com bom histórico de crédito pode ser uma forma eficaz de reequilibrar a carteira. Também é possível considerar o investimento em operações com spreads mais elevados e rating compatível com o perfil de risco
Adaptação do mercado e perspectivas para o médio prazo
A tributação dos CRIs e CRAs não encerra as oportunidades nesses ativos, mas exige maior rigor nas decisões. Emissões mais estruturadas e transparentes devem continuar tendo espaço, especialmente em cenários de juros elevados. Para o investidor, a diversificação segue como principal ferramenta de mitigação de risco. É essencial equilibrar diferentes classes de ativos e setores para enfrentar os desafios da nova realidade fiscal.
Mesmo com a perda da isenção, esses certificados ainda podem ocupar posição estratégica em carteiras de renda fixa. A mudança também pode fomentar debates sobre isonomia tributária, com possíveis efeitos regulatórios no futuro próximo.